Mas num país onde os concertos constantemente têm casas reduzidas e muitos cancelam sabe se lá porquê, questionei me várias vezes do sucesso da iniciativa, num sitio que diga-se de passagem é sui generis. A Casa Independente que já diversas formas tomou, é agora um espaço agradável onde se poderá ler um livro confortavelmente num sofá de um quarto, tomar uma refeição no quintal ou mesmo ver um espectáculo no salão de festas.
O bilhete era gratuito para todos aqueles que adquiriram o novo trabalho de Algodão de seu título "A Gramática da Paixão Dramática" anteriormente na FNAC. Para aqueles que ainda não o tinham adquirido, poderiam fazê-lo à porta do salão onde se realizaria o espectáculo.
Para surpresa de muitos, a sala que apesar de não ser muito grande rapidamente encheu após o final do jogo que à mesma hora se disputava lá para os lados da Luz. Será que o nervosismo de Carlos, lhe permitiu assistir aos golos de Cardozo?
Sala cheia. Hora de iniciar o espectáculo num palco pequeno mas acolhedor. Carlos Nobre (agora Algodão) sobe ao palco com Gil Pulido e Nelson Correia, músicos almadenses que acompanharam Algodão desde o início do projecto. Afinal este era um concerto intimista para fãs, família e amigos. A estes são dedicadas algumas referências em letras como "Amigos" ou "Meu irmão, meu maninho". Na verdade, muitas destas letras bebem talvez biograficamente numa vida vivida entre Almada e Lisboa, referenciando muitas das vezes os actos tão mundanos de um artista que desde muito novo chegou ao topo sem nunca se esquecer "aqueles com quem quis andar a porrada" e que hoje em dia são os seus melhores amigos.
Mas esta apresentação não se fez apenas de homens de Almada, as músicas, muitas, de Algodão descrevem relações com mulheres, umas boas e outras más. Mas para o palco trouxe apenas as mulheres com quem a relação musical parece perfeita. A primeira a subir ao palco foi, logo na primeira música, Francisca Fins, que depois de ter sido vista no Vodafone Mexefest 2011, quando acompanhou Algodão no seu primeiro trabalho, volta a ter um papel preponderante onde dá um toque de magia tocando magistralmente o violino que acompanha uma boa parte dos temas da "A Gramática da Paixão Dramática".
N' "Uma mulher", Algodão partilha a letra com Margarida Pinto, considerado já por alguns o melhor tema de todo o álbum. O facto de ter sido incluído logo no início do concerto levou muitos a entusiasmarem-se bastante desde o início trocando algumas palavras com Algodão por todo o concerto.
Para desmistificar a herança pesada que carrega a ópera, Algodão convidou a soprano Catarina Molder para com ele interpretarem "A Felicidade é, assim, Alice". Quem não conhece a soprano que apresenta e é autora do programa da RTP2, Super Diva, onde Carlos Nobre também participará, mostrou-se diferente mas igual a si própria numa interpretação bastante bem conseguida apesar do tamanho reduzido de palco, não intimidando os gestos e a voz de Catarina. Foi de facto mais uma mais valia neste álbum que prima pela diferença em relação a "Uma Falaciosa Noção de Intimidade".
Entre músicas a intimidade da apresentação levou até à brincadeira que o tablet de Algodão serviria para estar a fazer posts no Facebook anunciando as presenças femininas que iam pisando o palco (ou então para fazer refresh no Poker) segundo palavras do próprio.
E as músicas foram desenrolando como quem desenrola um novelo de lá à procura de novos caminhos, e novas sonoridades. Na verdade é o que este trabalho traz. Novas sonoridades que demonstram um Algodão mais puro, de volta às raízes, continuando a partilhar experiências e emoções.
Apesar da noite fria, foram quentes os aplausos que surgiram no fim de "Eu não sei quando te perdi" cantado por uma segunda vez no encore. Este é o primeiro single d' "A Gramática da Paixão Dramática". Esperemos para ver o feedback do público a um trabalho diferente, com uma visão menos apaixonada do que aquela que se viu no concerto.
Texto e Fotografia | Pedro Figueiredo