Da autoria de António Lobo Antunes a peça retrata uma família onde as suas histórias de vida se entre-cruzam em ambientes tão diferentes e inesperados. Em cena Maria de Medeiros, Gonçalo Távora Correia, não esquecendo o cavalo, Vulção.
Fiquei com vontade de ler o livro, a escrita inquieta de António Lobo Antunes foi excelentemente transposta para o público por Maria de Medeiros. O monologo contínuo, envolto nos movimentos constantes do cavalo, formaram momentos únicos.
Apenas um ponto negativo, as dificuldades iniciais com as alterações electrónicas da voz, as quais estavam previstas, mas que não estavam a funcionar nas melhores condições e que felizmente desligaram. A interpretação e entoação dada pela actriz foi suficiente para transmitir a diferença de sentimentos de cada personagem, ficou muito mais simples, mais límpido e na minha opinião muito melhor.
Para terminar um pequeno excerto da obra:
"Haverá noite para
este dia digam-me, uma altura em que deixo de distinguir o salgueiro e
depois do salgueiro a janela, os móveis desaparecem porque não acendemos
a luz, ficam as pegas de metal a brilhar um momento, um frémito nas
portas que ninguém gira, os meus irmãos procurando-se e eu em busca da
saída dado que principiaram as dores e não acho o caminho da rua,
apercebo-me do alpendre onde a lanterna baloiça na corrente, ao
regressar ao baldio via-a na esquina e acalmava, estou a chegar, estou
em casa, não me fazem mal já, o quintal fechava-se-me sobre o corpo e
escondia-me, nenhuma cólica, nenhum suor, a paz e com a paz a indecisão
da madrugada no peitoril- Nasço não nasço?" in Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar, de António Lobo Antunes
Entrada do Teatro Municipal S. Luiz |