Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?

Hoje foi dia de teatro com a abertura da temporada 2011-2012 no Teatro Municipal São Luiz com o texto "Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?". 

Da autoria de António Lobo Antunes a peça retrata uma família onde as suas histórias de vida se entre-cruzam em ambientes tão diferentes e inesperados. Em cena Maria de Medeiros, Gonçalo Távora Correia, não esquecendo o cavalo, Vulção.

Fiquei com vontade de ler o livro, a escrita inquieta de António Lobo Antunes foi excelentemente transposta para o público por Maria de Medeiros. O monologo contínuo, envolto nos movimentos constantes do cavalo, formaram momentos únicos.

Apenas um ponto negativo, as dificuldades iniciais com as alterações electrónicas da voz, as quais estavam previstas, mas que não estavam a funcionar nas melhores condições e que felizmente desligaram. A interpretação e entoação dada pela actriz foi suficiente para transmitir a diferença de sentimentos de cada personagem, ficou muito mais simples, mais límpido e na minha opinião muito melhor.

Para terminar um pequeno excerto da obra:

"Haverá noite para este dia digam-me, uma altura em que deixo de distinguir o salgueiro e depois do salgueiro a janela, os móveis desaparecem porque não acendemos a luz, ficam as pegas de metal a brilhar um momento, um frémito nas portas que ninguém gira, os meus irmãos procurando-se e eu em busca da saída dado que principiaram as dores e não acho o caminho da rua, apercebo-me do alpendre onde a lanterna baloiça na corrente, ao regressar ao baldio via-a na esquina e acalmava, estou a chegar, estou em casa, não me fazem mal já, o quintal fechava-se-me sobre o corpo e escondia-me, nenhuma cólica, nenhum suor, a paz e com a paz a indecisão da madrugada no peitoril- Nasço não nasço?"                        in Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar, de António Lobo Antunes



Entrada do Teatro Municipal S. Luiz




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